quarta-feira, 7 de julho de 2010

Crescer a brincar (o desenvolvimento dos 0 aos 6)

“Para ela (a criança) aprender é uma brincadeira e toda a brincadeira lhe ensina alguma coisa.”

(Bacus)
 
Hoje vamos continuar a explorar juntos o tema do Brincar, aproveitando-o para conhecer um pouco melhor o desenvolvimento infantil . Assim, esta semana vamos falar das crianças dos 0 aos 6 anos e daqui a quinze dias falaremos então dos mais crescidos (dos 6 anos em diante).

Através da observação de uma criança a brincar podemos, entre muitas outras coisas, aceder ao seu nível de desenvolvimento. Com efeito, a brincadeira é um forte testemunho das capacidades da criança. Como segura os objectos, como se desloca, que estratégias utiliza para atingir os seus objectivos, como reage ao insucesso e ao sucesso, como interage com os outros e lida consigo mesma, são alguns dos muitos parâmetros a ter em conta.

Novas etapas do desenvolvimento da criança significam novas formas de estruturação da brincadeira e novos interesses. Para podermos brincar com os nossos filhos de forma gratificante e promovendo a sua capacidade para brincar e aprender é importante ter em conta: a criança em si, as principais fases de desenvolvimento e o que está em jogo em cada uma delas. Só assim será possível adequar a brincadeira à criança em questão.

De qualquer forma, não nos podemos nunca esquecer que cada criança é um indivíduo único e irrepetível, com o seu ritmo, preferências e interesses específicos que necessitam de ser respeitados.

Durante o primeiro ano de vida o mundo chega ao bebé através do seu próprio corpo e da relação com o outro, permitindo o conhecimento do corpo, do espaço e dos Pais ou cuidadores.

Assim, dos 0-6 meses é a descoberta do corpo e do ambiente. A criança observa os seus pés e mãos, leva-os à boca, toca-os e explora as características sensoriais do que a rodeia: as cores, o brilho, o movimento, as texturas…

Dos 6 -18 meses torna-se mais activa, começa a agarrar, a fazer gestos, a mudar de posição e a deslocar-se. Inicia-se a viagem da descoberta, os jogos de manipulação e os jogos de exercício.

Este é o período sensório-motor, que vai desde o nascimento até um ano e meio de idade. O mundo de interacções, cheiros, paladares, sons e imagens moldam a sua identidade.

Durante este período é fundamental que pais e adultos protejam e estimulem, aproveitando para fomentar a curiosidade natural do bebé, dêem colo, cuidem e criem ritmos, regras e hábitos, incitem a observar, a escutar, a tocar e a deixar-se tocar, aprendendo que há o eu e o outro. É nesta fase que se dá a Vinculação; a aquisição da permanência do objecto, ou seja, o bebé ser capaz de procurar um boneco, por exemplo, quando a mãe o esconde atrás das costas ou sentir prazer ao jogar ao cucu, por saber que apesar de o pai ter a cara escondida que ele não se foi embora; e a angústia do estranho, pois o bebé começa a reconhecer quem lhe é familiar e quem não o é.

Durante os segundo e terceiro anos de vida de uma criança o mundo "cresce" e pode ser explorado em movimento, a criança passa a concretizar-se através da acção. Adquire-se a capacidade de iniciar o jogo pré simbólico, brinca-se de forma convencional e posteriormente de forma imaginativa. Descobre o mundo concreto dos objectos, sendo capaz de os utilizar pela sua função. Por exemplo, as meninas dão de comer às suas bonecas com a colher e o seu pratinho. De seguida, começa a imaginar novos usos para os objectos iniciando o jogo de faz-de-conta, podendo representar mentalmente algo que não está presente, por exemplo através de um desenho ou livro. Esta é a fase que se quer das novas descobertas, da viagem exploratória ao mundo dos sentidos. Devendo-se incentivar que a criança brinque na areia, na terra, com água ou com gelo; que apanhe florinhas ou bichinhos do chão… É também importante jogar com os sons e as palavras, brincar com o humor, moldar plasticina, jogar às escondidas, etc. Nesta etapa é fulcral ( mais uma vez) que pais e adultos protejam e estimulem, dêem colo, criem ritmos, regras e hábitos, mas que também agora imponham limites, sabendo dizer não. A criança tem ainda de aprender a reconhecer o Eu e Outro. O mundo de relações, cheiros, paladares, sons, imagens e segurança explorado em movimento molda a sua identificação. A autonomia "Eu sou capaz!" é adquirida bem como o poder de dizer sim ou dizer não.

Nos quarto e quinto anos de vida o mundo é a relação com os pares e os modelos de comportamentos e atitudes para fazer de conta e experimentar. A criança desenvolve os seus cenários de brincadeira, usando a imaginação e o disfarce, basta um lençol para fazer de fantasma ou um lenço para ser super-homem, sendo também já possivel dar a papa à boneca no prato e na colher imaginária, por exemplo... O mundo torna-se mais rico de relações e é explorado em movimento, em pensamento e afecto. Adquire-se a capacidade de pensar com lógica concreta, o que já lhe permite jogar com os conceitos.

O jogo simbólico do faz de conta de comportamentos e atitudes e as actividades lúdicas de grupo e destreza são agora muito importantes. Tudo o que deseja ou imagina é real pelo que, por volta dos 4 anos, tem grande dificuldade em distinguir a realidade da ficção, aliás o que não compreende imagina. Com efeito, é a idade dos medos e dos pesadelos.

Nesta fase continua a ser essencial que pais e adultos protejam e estimulem, dêem colo, criem ritmos, regras e hábitos,sabendo agora também dizer não e sim, como e porquê, pois assim estão a ensinar os filhos a perguntar e a fazer.

Nesta fase da vida a criança depende ainda muito do adulto, mas pensa mais com o coração e a sua noção de tempo é já, pelo que lida mal com a frustração. Os Pais são os Mestres do mundo e Eu estou no centro do Universo (egocentrismo).

Com efeito, as crianças "quando brincam, têm direito a ter a vista na ponta dos dedos, a cheirar, a sentir, a falar, a rir ou a chorar. Não há, brinquedos maus! A não ser aqueles que servem para afastar as pessoas com quem se pode brincar."(Eduardo Sá). E a nossa função enquanto pais é a de estar lá: para com elas brincar, as proteger e estimular, dando-lhes colo e limites, ao mesmo tempo (o que não é fácil!), ensinando-lhes a sonhar mas também a perguntar e a saber-ser e a saber- fazer, se possível aproveitando cada instante do seu crescimento e todas as suas novas e maravilhosas pequenas-grandes descobertas. Eles crescem num piscar de olhos!
 
PERGUNTAS CHAVE
 
 Quais os princípios orientadores para os pais brincarem com os seus filhos?
 
1. Conhecer bem o nivel de desenvolvimento e os interesses do seu filho;
2. Ter tempo para observar;
3. Ter tempo para brincar;
4. Ter tempo e espaço para deixarem que os vossos filhos vos guiem;
5. Ter tempo para ser criança!

Quais os marcos fundamentais do desenvolvimento dos 0 aos 6 anos?

x No 1º Ano de Vida : Vinculação, Permanência do objecto, Angústia do estranho;
x Nos 2º e 3º Anos de Vida: Autonomia: “Eu sou capaz!, Poder: a importancia do sim e do não;
x Nos 4º e 5º Anos de Vida: Socialização, Egocentrismo, Triangulação: Eu, nós e eles, Poder: A importância das palavras não, eu e sim.

1 comentário:

  1. Bom-dia! Estou agora a ter contacto com o seu blog. Como mãe de duas crianças pequenas agradeço muito estas leituras cheias de informação e sugestões. Eu própria tenho umas questões. A minha filha mais velha tem 3 anos e a nível de comportamento começou agora a verdadeira fase das birras e da afirmação. Acresce que, com a vinda do mano, as coisas se calhar não estão a ser nada fáceis para ela. Há alguma coisa que nós pais possamos fazer? Esta fase das birras vai durar muito tempo?
    Continuação de um bom trabalho.
    Rita

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